O papel do Serviço Geológico do Brasil na agenda de minerais estratégicos como as terras raras

Por Conexão Mineral 07/08/2025 - 20:03 hs
Foto: Igo Estrela/SGB
O papel do Serviço Geológico do Brasil na agenda de minerais estratégicos como as terras raras
Inácio Melo, diretor-presidente do SGB

O Serviço Geológico do Brasil (SGB) é o órgão do governo federal responsável pelo mapeamento geológico, produção e disseminação do conhecimento geocientífico, que inclui a avaliação do potencial mineral do território nacional. No contexto dos Elementos Terras Raras (ETR) e demais minerais estratégicos, o SGB atua na identificação de áreas com potencial mineral, com a aquisição e processamento de dados geológicos, geofísicos e geoquímicos, úteis para subsidiar a avaliação de viabilidade técnica e econômica de recursos minerais.

“O trabalho que realizamos subsidia políticas públicas, orienta investimentos privados e fortalece a presença do Brasil em cadeias produtivas globais essenciais para a transição energética, segurança alimentar e o desenvolvimento tecnológico”, destaca o diretor-presidente do SGB, Inácio Melo, que responde às perguntas abaixo.

Qual é o papel do SGB na agenda de minerais estratégicos, como as terras raras?

O SGB atua na identificação de áreas com potencial mineral, realiza mapeamentos, aquisição e processamento de dados geológicos, geoquímicos e geofísicos. Esses trabalhos subsidiam políticas públicas, orientam investimentos privados e fortalecem a presença do Brasil em cadeias produtivas globais ligadas à transição energética e ao desenvolvimento tecnológico.

Por que as terras raras são tão estratégicas para o Brasil e para o mundo?

As terras raras são essenciais para tecnologias de baixo carbono, como turbinas eólicas, veículos elétricos, baterias e equipamentos eletrônicos. Esses elementos também têm aplicações relevantes na indústria bélica e aeroespacial, sendo utilizados em caças, satélites e mísseis.

Embora não sejam escassas na natureza, são difíceis de extrair e processar, o que as torna críticas do ponto de vista tecnológico, econômico e ambiental. Além disso, a maior parte das reservas conhecidas estão concentradas na China, que domina também as tecnologias de beneficiamento e refino.

Nesse contexto, o Brasil, que possui a segunda maior reserva global de terras raras, tem uma posição estratégica e tem atraído atenção do mundo para diversificar a oferta, atrair investimentos, fortalecer cadeias produtivas e ampliar sua relevância geopolítica em temas ligados à transição energética e à inovação tecnológica. Esse é um ponto forte que pode ser evidenciado nas discussões internacionais.

O Brasil tem potencial para se tornar um líder global na produção de terras raras?

Sim. O Brasil possui a segunda maior reserva do mundo, concentrando 23% das reservas globais. Além disso, o país conta com projetos em expansão e pesquisas coordenadas pelo SGB que podem ampliar esse potencial e consolidar o país como um polo global estratégico na produção desses elementos.

Nossos pesquisadores realizam estudos em todo o território nacional para identificar novas áreas com potencial para terras raras. Estes estudos estimulam a atração de investimentos em pesquisa mineral, o desenvolvimento de projetos sustentáveis e o fortalecimento das cadeias produtivas ligadas à transição energética e à inovação tecnológica.

Também estamos avançando em parcerias com outros institutos de ciência e tecnologia e o setor privado para encontrar soluções que ajudem a superar as limitações tecnológicas e logísticas para que o Brasil possa transformar recursos estimados em depósitos minerais medidos e viáveis economicamente.

Quais são os principais projetos do SGB voltados para terras raras?

O principal é o Projeto de Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil, parte da linha “Minerais Estratégicos para Transição Energética”. Atuamos em diversas províncias geológicas nos estados de Goiás, Tocantins, Minas Gerais, Bahia, Paraná, São Paulo e Santa Catarina, além de pesquisas por meio de outros projetos em estados como Amazonas, Roraima, Rondônia, Pará e Piauí.

Quais os desafios para que essas ocorrências e recursos se tornem produção efetiva?

Os principais desafios são tecnológicos, logísticos, ambientais e de viabilidade econômica. A maturação dos projetos exige tempo e investimento, além de soluções para garantir sustentabilidade ambiental. Em alguns casos, como em Seis Lagos e Repartimento, há restrições legais por serem áreas de proteção ambiental ou territórios indígenas. Os elementos terras raras, apesar de não serem raros no solo, estão presentes em concentrações muito baixas, o que exige tecnologias avançadas para separação, concentração e beneficiamento.

O país está avançando com políticas públicas para fortalecer a cadeia produtiva, visando desenvolver infraestrutura, atrair investimentos e capacitar mão de obra. Tudo isso é parte do esforço do governo federal para consolidar o país como um destino atrativo para o desenvolvimento de pesquisa mineral.

Há várias ações governamentais em curso, por exemplo, o edital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) com a chamada pública para seleção de planos de negócio para investimentos na transformação de minerais estratégicos para transição energética e descarbonização. Há também a chamada pública do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para expansão e consolidação do Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT) – minerais estratégicos estão entre os temas. Outro exemplo é a criação do Primeiro laboratório-fábrica de ligas e ímãs de terras-raras do hemisfério sul (LabFabITR), iniciativa da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge).

Como o SGB apoia políticas públicas e investimentos privados nesse setor?

Oferecendo dados geocientíficos qualificados, atualizados e de acesso público. Nossos estudos orientam desde políticas de segurança energética até decisões de investidores que buscam oportunidades em minerais estratégicos. O conhecimento que geramos reduz incertezas e acelera o desenvolvimento de projetos.

O país tem potencial para outros minerais estratégicos?

O Brasil tem grande potencial geológico e abriga reservas/recursos minerais significativos de diversos minerais estratégicos, além das terras raras. Podemos destacar o lítio, fundamental para baterias de veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia; o nióbio, usado em superligas de alta resistência; o grafita e o grafeno, com aplicações em diversas tecnologias avançadas; e o cobre e o níquel, essenciais para a transição energética.

O SGB realiza pesquisas em diferentes regiões do país para identificar novas áreas promissoras e apoiar o aproveitamento sustentável desses recursos. Nos próximos dias, entregaremos o Plano Decenal de Pesquisa de Recursos Minerais (PlanGeo 2026–2035) — um documento estratégico que direciona a pesquisa mineral para a próxima década, alinhada com o planejamento do mapeamento geológico básico, definindo as áreas que serão estudadas nos próximos anos, em conformidade com as demandas nacionais e os desafios do cenário global.

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