Debate sobre manutenção incluiu o aspecto da terceirização

Tema é polêmico e debate mostrou que há uma solução única e cada empresa deve avaliar bem suas demandas

Por Conexão Mineral 07/04/2017 - 15:38 hs
Foto: Personal Press
Debate sobre manutenção incluiu o aspecto da terceirização
Debate realizado após as palestras do Sobratema Workshop 2017

O Sobratema Workshop 2017, realizado dia 5 de abril em São Paulo, trouxe à discussão diversos pontos relacionados às práticas de manutenção no cenário atual, desde a forma como cada setor planeja, controla e executa essa atividade, passando pelo papel e a importância dos distribuidores e das concessionárias nessa atividade. O evento contou com três apresentações técnicas  (confira os detalhes de cada uma na aba "Manutenção") e em seguida foi realizado um debate, com os três palestrantes e outros profissionais convidados, com participação da platéia.

Um dos temas abordados é uma questão bem atual, envolvendo a Lei da Terceirização (lei nº 13.429), sancionada parcialmente no final do mês de março pela presidência da República e que possibilita a contratação de trabalhadores terceirizados para exercerem cargos na atividade fim, que são as principais funções de uma empresa.

Para o engenheiro Silvimar Fernandes Reis, consultor em Gestão de Ativos do Grupo Galvão e do Grupo Mobibrasil é preciso saber o que pode ou não ser terceirizado. “Acredito em uma solução híbrida, com a terceirização em áreas não estratégicas”, avaliou. “Ter uma estrutura própria pode ser bom, mas com a evolução tecnológica dos equipamentos e seus componentes, não conseguimos ser bom e ter competência em tudo. Veja, por exemplo, os motores e as transmissões que possuem um nível de tecnologia muito sofisticado, o que exige também uma alta especialização para realizar a manutenção”. 

Fernando Guimarães, diretor executivo da Viação Cometa S/A, citou o papel do dealers na terceirização para a realização da manutenção de seus 2.500 ônibus. “Acho que a cada dia, vamos depender mais deles, porque será mais difícil qualificar nossa área de mecânica, com a incorporação dessas novas tecnologias. Antes da reestruturação, contávamos, por exemplo, com uma equipe de cinco mecânicos em Belo Horizonte para atendimento de ocorrências. Porém, em um ano, tivemos apenas duas. Assim, percebemos que, para nós, o melhor seria ter o suporte do dealer”, contou. 

Segundo ele, essa mudança na estrutura depende de planejamento, de indicadores, de controle e de gestão dos ativos. “Hoje, posso afirmar que a disponibilidade tem um valor muito grande para a companhia. Mas, para isso, houve um acompanhamento sobre o quanto vale essa disponibilidade, qual é o custo de um veículo parado. Além disso, estamos passando a responsabilidade da qualificação da mão de obra para atendimento das ocorrências e da manutenção para o dealers e podemos focar em nosso negócio”, ressaltou. 

Marcos Iwamoto Ferreira, gerente de Manutenção da Embú S/A, contou que a forma de atuar é pouco diferente em decorrência das características da atividade, mas que existe uma terceirização da manutenção de sua frota de máquinas pesadas. “Não temos tantos mecânicos, mas eles são treinados e capacitados, além da aquisição de conhecimento por meio do contato e das experiências dos mecânicos mais antigos. No caso da terceirização, além dos dealers, também estão começando a utilizar mecânicos terceirizados que deixaram o quadro de funcionários desses dealers para atuar na manutenção quando não há mais a garantia por parte do fabricante, porque eles já trabalharam e conhecem a dinâmica dos equipamentos e da empresa”. 

Pela sede ser em Fortaleza, no Ceará, David Rodrigues, CEO da Makro Engenharia de Movimento comentou sobre a dificuldade de atendimento de seus equipamentos de içamento de carga por parte do dealers, o que motivou a empresa ter uma estrutura própria de manutenção, investindo em treinamento e capacitação de seus colaboradores. “No entanto, eu preferia terceirizar, tirando, assim, o custo fixo da companhia. Em países mais desenvolvidos, vimos que empresas como a Makro trabalham com a mão de obra específica do negócio, o restante é terceirizado”, explicou. “Porém, eu entendo que isso passa por uma completa mudança no modelo de negócio e o Brasil ainda não está preparado para esse cenário”. 

Luiz Gustavo R. de Magalhães Pereira, CEO do Grupo Tracbel, concorda com Rodrigues sobre a questão de transformar um custo fixo em variável e acrescentou que uma estratégia da empresa para formação e capacitação de pessoas foi a mudança na visão sobre os mecânicos independentes, que são, atualmente, certificado em vários níveis, de acordo com o conhecimento e treinamento. “Além de poder contar conosco, estamos cuidando do treinamento do mecânico indicado pelo usuário”. 

Alisson Daniel, diretor da Escad Rental, avaliou que a terceirização pode vir a ser uma solução em uma retomada mais contundente das obras de infraestrutura e da construção. “Se houver um volume de projetos muito grandes para ser atendidos, que demandem ações rápidas, talvez a terceirização seja uma solução para manter a disponibilidade, a qualidade e a segurança na operação do equipamento”. 

Um ponto também abordado no painel por Ivan Montenegro, diretor de Implantação e Operação da New Steel, foi a correlação entre a manutenção, a operação e o dealer. “Mesmo com as particularidades da área de mineração, a gestão tanto da operação como a da manutenção têm aspectos similares e as duas influenciam em ambas as áreas. Assim, elas precisam estar casadas bem como estarem sintonizadas com o dealers, que precisam fornecer o conhecimento e/ou treinamento sobre a melhor forma de operar. Afinal, o operador é o principal mantenedor do equipamento”. 

Os participantes também perguntaram aos debatedores sobre a questão de peças genuínas, originais, recondicionadas e do mercado paralelo. “O custo da peça paralela pode ser mais baixo, mas a vida útil do equipamento vai ser prejudicada, podendo até afetar componentes da máquina. Nesse sentido, o controle de custos é importante e os indicadores precisam ser bem precisos para nortear a decisão”, disse Pedro Buffoni, da TMD - Tecnologia, Manutenção e Diagnóstico.