Mudança no processo de lixiviação viabilizou projeto Santa Luz

Substituição do carvão ativado por resina foi a solução encontrada para beneficiar o minério carbonoso com sucesso

Por Conexão Mineral 19/07/2022 - 22:15 hs
Foto: Conexão Mineral
Mudança no processo de lixiviação viabilizou projeto Santa Luz
Planta da Mineração Santa Luz é a primeira com resina na lixiviação do ouro

O processamento do minério carbonoso presente na Mineração Santa Luz foi o grande desafio enfrentado pela Equinox Gold para permitir o retorno das atividades na mina localizada na Bahia. A metodologia tradicional, com utilização de carvão ativado no processo CIL ou CIP, não era viável pelo minério ser carbonoso. A solução foi inspirada em minas localizadas em países distantes como Azerbaijão e Malásia, mas permitiu a viabilização do projeto com a implantação da primeira planta industrial com uso de resina no processo de lixiviação de ouro no Brasil.   

A primeira fundição de ouro foi realizada no final de março, após um período de nove meses de construção da nova planta industrial. A estimativa de produção para esse ano é de 70 mil a 90 mil onças de ouro.

Gabriel Sapucaia, gerente de Beneficiamento da Mineração Santa Luz, explica que o laboratório da Mintec na África do Sul desenvolveu a tecnologia, mas a Dupont adquiriu esses direitos e atualmente é quem produz a resina empregada pela mineradora, embora existam outras opções no mercado. 

Existem poucas operações que utilizaram a resina no processo de lixiviação. Um exemplo é uma mina de ouro na Malásia, já exaurida. Outro exemplo é uma mina no Azerbaijão, da Ásia Mining, que utiliza a resina, porém não tem o mesmo problema do minério carbonoso presente em Santa Luz. Existem também algumas minas na Rússia, porém a mineradora não conseguiu acesso às informações técnicas. Sapucaia chegou a viajar para o Azerbaijão para entender melhor como era o processo.

“Em 99,99% das minas é possível utilizar esse sistema com o carvão. Mas o nosso minério tem uma característica diferente, é um minério carbonoso. É como se nós tivéssemos o carvão ativado no meio dele e como você precisa moer esse minério, vai chegar extremamente fino na etapa de lixiviação. Para recuperar o ouro você precisa neutralizar esse carbonoso, criando uma espécie de filme nesse carbonoso fino para que ele não roube o ouro. Uma forma para criar essa película é utilizar querosene. Mas se você utiliza o carvão ativado juntamente com o minério carbonoso, quando você dosa o querosene ele forma o filme tanto no carbonoso como no carvão ativado. A resina substitui o carvão ativado por ela não ser impactada pelo querosene, ou seja, posso colocar o querosene que não vai formar um filme nela, que continuará disponível para recuperar o ouro”, explica Sapucaia.

Um outro fator relacionado aos adsorventes, tanto carvão ativado como resina, é a característica de adsorver mais rápido ou mais lentamente. Quanto mais ativo, mais rápido, maior a cinética de adsorção. Quanto menos ativo mais lenta é a cinética de adsorção. A resina  tem uma atividade de 90% enquanto o carvão ativado tem uma atividade na casa dos 42% a  46%. Então com o uso da resina, um adsorvente mais ativo, mais rápido o ouro vai para ela.  “Esses dois fatores, de não ser impactada pela adição de querosene e também ter uma atividade maior, são primordiais para termos utilizado a resina no lugar do carvão ativado”, explica o gerente.

Em relação ao tamanho, a resina é bem menor que o carvão ativado, parecendo um grão de areia, o que traz alguns desafios no peneiramento, porque ela estará carregada de ouro e é preciso distingui-la da polpa, que é a mistura de minério mais água. Então as peneiras que são utilizadas no processo com a resina possuem malhas muito mais fechadas e é necessário ter o dobro da capacidade de peneiramento. “Para carvão ativado, geralmente você usa uma peneira inter-estágio, fornecida pela Westech, que fica entre um tanque e outro e tem uma abertura de 0,8 mm. Já para a resina é de 0,5 mm. Então é uma peneira com uma malha menor eu preciso ter uma segunda peneira para dar essa capacidade de peneiramento necessária”, explica. A planta conta com peneira de alta frequência Derrick. 

“O que a resina nos traz de diferente em relação às outras minerações de ouro é a etapa de eluição que alguns chamam de dessorção. Essa etapa consiste em retirar o ouro que está na resina. De uma forma sequencial temos, pós moagem, a polpa já misturada com água que vai para a lixiviação, onde tem adição de cal para fazer o ajuste de PH, a adição de querosene e depois, que está tudo ok, temos a adição também de oxigênio para fazer a oxidação dos sulfetos. Tendo esse material pronto, o que é feito nos três primeiros tanques, vai para a etapa RIL, onde é feita a adição do cianeto juntamente com a resina dispersa ali naquela polpa que está sendo agitada nos tanques grandes. E aí, quando você adiciona o cianeto, o ouro que estava sólido vai solubilizar ou seja vai sair do estado sólido e vai ser lixiviado formando um complexo de ouro-cianeto, que vai ser adsorvido, nas outras minas, em carvão ativado e aqui  na resina. Isso vai ocorrendo ao longo do tempo e a resina vai enriquecendo até o ponto em que já está adequada para a próxima etapa do processo, que é a de dessorção, que é um pouco diferente das outras minas Porque precisamos de quatro etapas para retirar o ouro dessa resina”, detalha o gerente de Beneficiamento.

Sapucaia explica que a primeira etapa é apenas uma lavagem física na qual é utilizado um  surfactante, limpando o que está impregnado fisicamente na superfície da resina. Após isso,  tem duas etapas de lavagem química sendo uma chamada lavagem de cobre na qual é utilizado o cianeto em altas concentrações para remover o cobre da resina e nessa etapa não há desprendimento do ouro apenas do cobre. E tem a lavagem ácida com ácido sulfúrico e temperatura de 60 graus e pressão atmosférica ambiente e nessa etapa é feita a retirada de outros metais, como níquel, zinco, manganês e ferro. Depois dessas etapas, informa Sapucaia, será feita a eluição ou dessorção do ouro e para isso é utilizado o ácido sulfúrico e também um insumo que não é comum em mineração de ouro, que se chama tioureia. O ácido vai retirar o ouro da resina, que voltará para a solução, agora com concentrações mais elevadas do metal.  Essa solução rica em ouro será bombeada para a etapa eletrodeposição.

“Nessa etapa será aplicada uma tensão e corrente e o ouro vai adsorver na malha de inox dos cátodos. Toda essa operação de retirada do ouro da resina é feita a temperatura de 60 graus e pressão atmosférica. Quando os cátodos estão carregados, são retirados e é aplicado um hidrojato para lavagem. Essa lama que estava impregnada nos cátodos cai e é recolhida e colocada no forno de fundição junto com outros reagentes, para que ocorra a fusão do ouro. Finalmente, teremos a barra de ouro, que depois seguirá para outro local onde será feito o refinamento do bullion, que tem de 85% a 92% de ouro, dependendo muito da quantidade de outros metais presentes. Geralmente, temos aqui a prata, um subproduto, vendida juntamente com o ouro. E tem ainda de 2% a 3% de impureza no bullion, que será retirada no refino, gerando a barra de ouro com 99,99%.