Tecnologia 5G poderá gerar cerca de R$ 2 bilhões em novos negócios na indústria de recursos naturais

A Accenture elaborou um levantamento sobre as aplicações nos setor e seu potencial de transformação

Por Conexão Mineral 26/05/2022 - 19:57 hs
Foto: Accenture
Tecnologia 5G poderá gerar cerca de R$ 2 bilhões em novos negócios na indústria de recursos naturais
Nos Estados Unidos, o crescimento com o 5G será de mais de US$ 2,7 trilhões em vendas

A Accenture produziu o estudo Aplicações da tecnologia 5G nos Setores Químico e Recursos Naturais, mostrando que o 5G poderá gerar um incremento de cerca de R$ 2 bilhões em novos negócios ao setor nos próximos anos. O levantamento traz as grandes áreas com potenciais para transformar as indústrias de recursos naturais (mineradoras, metalúrgicas e empresas de produtos florestais e de materiais de construção) e química por meio do 5G. São elas: Planta inteligente, Operação inteligente, Trabalhador conectado e Produto conectado.

Segundo a Accenture, as empresas devem tomar ações para se posicionar para os desafios e as oportunidades do 5G. A segurança, confiabilidade e eficiência de uma rede 5G (privada ou pública) podem fornecer uma mudança radical tanto na inovação quanto nos resultados financeiros e as empresas devem buscar o modelo de implementação que atenderá oportunidades atuais sem deixar de lado as necessidades do amanhã. 

Ainda de acordo com a empresa, serão diversos pontos habilitados no setor pelo 5G. Na área de Planta Inteligente, destaque para o suporte ao controle de várias plantas operacionais a partir de um site de controle central e a expansão e flexibilidade de operação com solução síncrona entre um ambiente físico e um ambiente digital (Digital Twins). Em Operação inteligente, o 5G vai permitir a transmissão e análise em tempo real de conjuntos de big data, a capacidade de transmissão de grande quantidade de dados e resposta rápida para a manutenção e qualidade preditiva e o suporte ao controle de robôs e veículos automatizados (AGV) com resposta de baixa latência, ou seja, menor tempo de resposta. 

Nas áreas Trabalhador e Produto conectados, destaques para a baixa latência e resposta instantânea para os dispositivos de fones de ouvido e AR / VR (realidade aumentada e virtual), mesmo em áreas distintas, instruções de trabalho em tempo real e treinamentos conforme a necessidade, tracking dos operadores em tempo real, além da análise, autocorreção, otimização da produção e redução de custos com uso de Big Data e Analytics.

O 5G permitirá melhorias em inúmeros casos de uso no setor de recursos naturais, segundo a empresa. O primeiro é o aspecto da segurança nos processos da planta e manufatura inteligente, com o uso de CCTV e óculos inteligentes, como por exemplo, report de incidentes, monitoramento de áreas perigosas, acidentes de trabalho, atividades complexas, entre outros pontos.  

No quesito da manutenção, o uso de video analytics, sensores remotos e óculos inteligentes com realidade aumentadas para detecção de anomalias e verificação e visualização de instruções de manejo de materiais também vão colaborar positivamente com os processos. Por fim, em operações e qualidade, a análise de imagens em tempo real pode aperfeiçoar as operações das empresas trazendo maior eficiência, análises com melhor acuraria e aumento de capacidade operacional.

Historicamente, as indústrias de recursos naturais têm sido inovadoras e líderes em tecnologia de operação (por exemplo, sensores de campo) e seguidoras e adotantes tardias em outras (por exemplo, plataformas digitais integradas), resultando em níveis mais baixos de utilização digital. O Fórum Econômico Mundial projeta que a automação e a robótica podem prevenir 10.000 lesões nas indústrias de mineração e metais na década até 2025.

Na visão da Accenture, serão necessários investimentos em tecnologia que permitirão um maior índice e eficiência de automação, orientados por dados e de forma sustentável e flexível. Para aproveitar as vantagens da tecnologia 5G, as empresas precisarão melhorar sua capacidade de gerenciar dados em tempo real em quantidades muito maiores do que tradicionalmente. 

Globalmente, diversos setores investem no 5G. Dados da Accenture mostram que na Europa, o 5G vai gerar um incremento de mais de € 2 trilhões em vendas entre 2021 e 2025, e ainda agregará € 1 trilhão ao PIB. Nos Estados Unidos, o crescimento com o 5G será de mais de US$ 2,7 trilhões em vendas, enquanto o PIB terá acréscimo de US$ 1,5 trilhão nesse período. Em relação ao nível de emprego, só nos EUA, o 5G tem potencial para criar 16 milhões de empregos em todos os setores da economia. 

Em resumo, segundo a Accenture, as empresas devem tomar ações para se posicionar para os desafios e as oportunidades do 5G. A segurança, confiabilidade e eficiência de uma rede 5G (privada ou pública) podem fornecer uma mudança radical tanto na inovação quanto nos resultados financeiros e as empresas devem buscar o modelo de implementação que atenderá oportunidades atuais sem deixar de lado as necessidades do amanhã.

A editora de Conexão Mineral, Lílian Moreira, conversou com Cristiano Soares, diretor executivo e líder de Tecnologia para as Indústrias Química e Recursos Naturais da Accenture, para entender as oportunidades e desafios do setor com a tecnologia 5G. Confira a entrevista a seguir.

Conexão Mineral – O fato das mineradoras geralmente estarem localizadas em regiões mais distantes dos grandes centros é um complicador para o segmento?

Cristiano Soares – Historicamente, as concessões de redes de telefonia móvel iniciaram e evoluíram suas operações em centros de maior densidade populacional, naturalmente pelo foco de monetização dos seus ativos e investimentos sempre terem sido, em grande maioria, no segmento de B2C até a tecnologia 4G. Na realidade do Brasil, um país de dimensões continentais, infelizmente ainda temos zonas de sombra de sinal em áreas remotas. Da mesma forma, as operadoras que ganharam a concessão de exploração do espectro 5G certamente irão iniciar suas ofertas por locais com maior densidade populacional. Contudo, pelo potencial de uso da tecnologia 5G para o segmento B2B, explorando atributos dessa tecnologia que vão além de maior velocidade, como maior capacidade de processamento de dados em edge e nuvem e com tempos de resposta da rede bem menores, está se abrindo uma gama enorme de potencial de uso pelo setor produtivo que não era possível antes. Diante deste novo cenário de possibilidade de comunicação intensiva máquina-máquina haverá uma atratividade natural das operadoras e empresas de tecnologia em habilitar a operação do 5G em regiões mais remotas. Temos visto no mercado algumas mineradoras, inclusive nessas regiões distantes dos grandes centros, iniciando estudos e movimentos de aperfeiçoamento de suas operações com a aplicação do 5G. Existe também a possibilidade de a indústria antecipar a implementação de uma rede 5G para atender seus desafios por meio da implantação de uma rede privada 5G, como já é feito com 4G e está em adoção com 5G. A vantagem é poder ter uma rede dedicada para suas aplicações. Os desafios, nesse caso, é equacionar o tema de espectro para utilização nesta Rede Privada (que pode ser privado, via solicitação Anatel ou em parceria com algum player que tenha adquirido espectro no leilão 5G) para justificar um business case.

Conexão Mineral – Como as pequenas e médias mineradoras, sem tantos recursos financeiros, podem se beneficiar desse novo momento tecnológico?

Cristiano Soares – Cada vez mais a tecnologia está evoluindo para buscar maior efetividade na operação, redução de perdas e aumento da produção, sem também esquecer um fator crítico na indústria: a saúde e segurança dos funcionários. Neste sentido o investimento em tecnologia é necessário para se manter ativo no setor, até como uma forma de sobrevivência a longo prazo diante das oscilações de preços internacionais de mercado. Como todo investimento é necessário realizar uma avaliação criteriosa do seu potencial retorno e optar por aqueles que estejam também alinhados aos objetivos estratégicos da empresa. Há de ressaltar também que o mercado tem avançado em tecnologias de uso mais rápido, eficiente e com menor custo de investimento inicial, em especial soluções Cloud e modelos de Software-as-a Service (SaaS), que permitem retornos mais imediatos e com menor investimento inicial.

Conexão Mineral – Capacitação da mão de obra é uma dificuldade a ser vencida ou estamos em condições de dar esse passo?

Cristiano Soares – Há uma carência muito grande de capacitação de mão de obra qualificada de tecnologia no Brasil e este será um desafio para o crescimento das empresas. Temos uma lacuna muito grande de profissionais preparados para trabalhar com tecnologia de ponta e a velocidade de transformação digital dos negócios hoje é maior comparado ao estamos evoluindo em termos de capacitação de pessoas. As vagas para profissionais de tecnologia têm salários atrativos e com possibilidade de crescimento profissional acelerado, porém observamos que o conhecimento básico de formação está ausente em muitos profissionais. As próprias empresas têm trabalhado fortemente na formação de profissionais de tecnologia para atendimento às suas necessidades, mas infelizmente hoje ainda não é suficiente para suprir as necessidades do setor.

Conexão Mineral – Essa maior demanda de gerenciamento de dados em tempo real requer grande investimento em equipamentos, sistemas e softwares?

Cristiano Soares – Não necessariamente. Hoje os modelos de investimento em tecnologia não estão mais associados à aquisições de hardware e software, mas sim pelo pagamento por uso. Esse tipo de modelo possibilita uma racionalização muito melhor de custos se utilizado de forma adequada e otimizada, além de também trazer benefícios diretos como manutenção e atualização tecnológica contínua, suporte especializado do fabricante e segurança. É necessário avaliar cada caso de aplicação de recursos de tecnologia para decidir pelo melhor modelo de investimento. O 5G inclusive introduz um conceito de utilização de redes públicas de operadoras com o chamado “network slicing” que nada mais é do que compartilhar uma rede pública onde a operadora investe (CAPEX) para construção e dedica uma fatia (“slice”) para uso de uma determinada empresa, garantindo recursos dedicados, qualidade de serviço, SLA, segurança e sendo remunerada por uso do serviço. É um conceito que trabalhamos na Accenture como “5G as a Service”.

Conexão Mineral – Quais os produtos/serviços que a Accenture oferece para os segmentos de mineração, siderurgia e petróleo?

Cristiano Soares – A Accenture possui um portfólio de serviços muito amplo para atendimento a estes segmentos. Contamos com um time muito especializado na indústria e uma rede de apoio global que nos possibilita a conexão com os melhores profissionais para resolvermos os desafios de nossos clientes. Trabalhamos desde o apoio estratégico e consultoria no tratamento de temas de negócio como crescimento, lucratividade, transformação tecnológica, M&A, modelos operacionais, sustentabilidade, entre outros, até a realização de projetos e operações complexas nas mais diversas disciplinas – transformação para nuvem, implantação de ERP, analytics, cybersecurity, automação industrial, agilidade organizacional, transformação de vendas, supply chain, etc. Além disso também temos um time de Business Process Ousourcing especializado em transformar, aperfeiçoar e operar processos das empresas, em especial nas áreas financeira, supply chain, suprimentos, RH, marketing e vendas.


Cristiano Soraes, diretor executivo e líder de Tecnologia para as Indústrias Química e Recursos Naturais da Accenture (foto: Accenture)