Ibram estuda criar o censo da diversidade do setor mineral

Evento online Diversibram - Semana de Diversidade e Inclusão da Mineração do Brasil prossegue até dia 18/3

Por Conexão Mineral 15/03/2022 - 22:22 hs
Foto: Ibram
Ibram estuda criar o censo da diversidade do setor mineral
Corrine Ricard, presidente da Mosaic, participou da Diversibram

O diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, anunciou que a direção estuda criar o censo da diversidade do setor mineral, entre outras ações relacionadas ao tema diversidade e inclusão (DI) nessa indústria. O censo, segundo ele, tem a pretensão de “acompanhar os avanços e ter conhecimento de tudo o que representa a atenção, o envolvimento, desde a alta administração das empresas até os empregados, com esse tema essencial para a democracia, para cada um e para todos, que é a diversidade”.

Jungmann disse que também está em discussão interna a criação de um prêmio e de um concurso, ambos nacionais, para evidenciar as boas práticas de DI e estimular ainda mais sua adoção pela mineração do Brasil. Ele participou da abertura do evento online Diversibram -  Semana de Diversidade e Inclusão da Mineração do Brasil, na 2ª feira (14/3). 

Também participaram da solenidade de abertura Corrine Ricard, presidente da Mosaic Fertilizantes; Paulo Ganime, deputado federal (Novo-RJ); Mariana Neris, Secretária Nacional de Proteção Global do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos; Ana Cunha, diretora de Relações Governamentais e Responsabilidade Social da Kinross e conselheira do IBRAM; diretores e gestores das companhias ArcelorMittal, Mosaic, Nexa e Anglo American; e a consultora Janaína Gama, da Mais Diversidade. A apresentação ficou a cargo do diretor de Comunicação do Ibram, Paulo Henrique Soares.

A Diversibram é evento gratuito e online e terá programação até o dia 18/3. Foi criada para debater ações desenvolvidas pelo setor mineral em prol da inclusão e da diversidade. Abordará temas variados, como inovação, mudança de mindset para o ambiente de trabalho, vieses inconscientes, segurança psicológica, tendências de DI para 2022 e os próximos anos.

Corrine Ricard, presidente da Mosaic, elogiou a iniciativa do Ibram em organizar a Diversibram e disse que sua companhia adota políticas e práticas corporativas para elevar o patamar de DI e equidade, com igualdade de oportunidades. “Queremos consolidar a cultura de diversidade e inclusão de forma abrangente, para criar um ambiente inclusivo, valorizar a diversidade de pessoas e ideias e oferecer oportunidades iguais de crescimento profissional”, disse.

Ela também parabenizou as mineradoras atuantes no Brasil que aderiram à Carta Compromisso, documento que deu origem à Agenda ESG da Mineração do Brasil, e que prevê ações concretas do setor mineral para criar e manter ambiente seguro e acolhedor para favorecer a evolução da DI.

Corrine disse que a Mosaic trabalha para que até 2025 tenha 30% de posições de liderança preenchidas por mulheres. “Equidade de gênero é um desafio global e também uma oportunidade global. E no agribusiness e na mineração há muito a se fazer para evoluir ainda mais para transformar a realidade em que vivemos”, afirmou. 

Raul Jungmann disse que diversidade se destaca em vários aspectos, em especial, por “uma questão de valores, de acompanhar a sociedade, de acompanhar os valores que se tornam crescentemente universais e reconhecidos. A existência do outro, do diferente. E o direito do outro e do diferente de exercer a sua integralidade humana, como nós exercemos a nossa”.

Disse ainda que o comportamento corporativo em prol da DI “vai proporcionar ganhos às organizações. Entre outros, a questão da criatividade. Ter várias vozes, várias visões de mundo ajuda o enfrentamento e o desenvolvimento de soluções aos problemas. É imprescindível o papel da diversidade para que tenhamos uma sociedade muito mais centrada, não na tradição como no passado, mas na inovação. A visão múltipla, plural, é fundamental nesse sentido(...) Diversidade é ancora contra discurso do ódio, contra a exclusão do outro, a negação do outro, a não equidade. Diversidade fortalece as empresas e a própria sociedade para a qual se voltam essas empresas”, afirmou o dirigente.

Abordagem histórica da Diversidade

Em sua fala, Raul Jungmann fez uma abordagem histórica sobre a diversidade, um tema em discussão na humanidade há muitos séculos. Para exemplificar que o tema é secular, ele mencionou citações da Bíblia (Livro de Mateus) quando Jesus Cristo informou aos discípulos que o 2º Mandamento era “Amar o teu próximo como a ti mesmo”.

Começava ali, disse, “uma revolução que iria se espraiar ao longo dos séculos”. Naquela época, “vivíamos um momento marcado exatamente pelo inverso do que estamos conversando aqui, ou seja, sobre a diversidade. Naquela época, as civilizações suportavam sociedades com escravidão e nada menos diverso do que tratar seres humanos como mercadorias ou como escravos. Aquele momento foi o start fundamental dos direitos humanos”.

Ele também citou outros acontecimentos históricos que despertaram a humanidade para a discussão global da diversidade, como a Revolução Francesa, as guerras mundiais, o processo de descolonização, as lutas das mulheres pelo direito ao voto e ao trabalho, as lutas sindicais e a instituição dos Direitos Humanos em nível internacional pelas Nações Unidas. 

Jungmann também citou a evolução da gestão de recursos humanos nas empresas ao longo dos séculos, levando em conta aspectos sociais e humanos. Essa evolução no ambiente administrativo, disse, gerou a necessidade de a educação acompanhar este movimento e o emprego de tecnologias de forma constante. “O avanço da tecnologia, que vivemos hoje na era digital, torna imprescindível que as empresas passem a considerar, não o empregado ou a mão de obra (em seu ambiente de trabalho), mas trazer para a sua organização a mesma integralidade e visão democrática que avançam ao longo do tempo nas sociedades”, afirmou.

Ele fez questão de frisar que “não há diversidade sem democracia(...) Diversidade tem fortíssima relação com democracia, integralidade, com respeito ao outro e negação ao discurso do ódio (...), que é o inverso da diversidade, que tem por princípio a negação do outro, da diversidade, da multiplicidade(...) tem a visão de raça, a visão de etnia superior, que visa diminuir a integralidade, o respeito humano que se deve ter”.

Mariana Neris, do Ministério da Mulher, elogiou iniciativas do setor mineral em prol da DI, como Carta Compromisso e o plano de ação do movimento Women in Mining Brasil, que objetiva qualificar e aumentar a participação das mulheres no setor. “É o percurso de um amplo diálogo com a sociedade e, a partir desse diálogo, haverá a construção de indicadores, de elementos para o plano de ação da diversidade e inclusão das mineradoras, companhias com grande alcance na sociedade”.

Sara Murssa, diretora de Recursos Humanos da Anglo American, disse que a companhia ampliou os grupos específicos que estão à frente das ações de DI. Além de comitês de mulheres; raças e etnias; pessoas com deficiência; LGBTQIA+; a Anglo criou o comitê de gerações. “Temos na Anglo American pessoas mais maduras e muitos jovens e esse olhar para a diversidade é fundamental para a companhia”, disse.  

Ela informou que além do foco em diversidade e inclusão “temos também um programa muito sólido de saúde emocional, que dá suporte aos empregados. É onde essa DI tem um suporte psicológico muito forte para que realmente tenhamos esse ambiente plural para que as pessoas possam dar o seu melhor”.

Ana Cunha, da Kinross, disse que a Diversibram é um marco da diversidade no setor mineral brasileiro. Ela citou o filósofo Vladimir Safatle ao dizer que a importância das discussões de alto nível da Diversibram não será medida no momento em que o evento acontece, mas pelas aberturas para mudanças que ele proporcionará posteriormente. 

Gustavo Cicilini, gerente sênior de RH para Atração, Desenvolvimento e Cultura da Nexa Resources, ressaltou que “as empresas que possuem times mais plurais têm mais habilidade e mais competitividade para sair de crises como que a gente está vivendo nessa pandemia. Isso porque temos no nosso quadro a representatividade capaz de impulsionar soluções mais disruptivas, inovadoras”. Disse ainda que a companhia concluiu na última semana um censo interno de diversidade, com a participação mais de 4.500 empregados ou 72% da força de trabalho, e que a proposta do Ibram de criar um censo em âmbito nacional da mineração é uma ideia positiva para o setor.

Marina Soares, diretora Jurídica, Sustentabilidade e Compliance Officer da Arcelor Mittal Brasil, disse que “nosso programa de diversidade transformou e vem transformando os empregados, humanizou todas as nossas relações, então está na nossa pauta, no nosso dia a dia”. A companhia adota políticas de DI desde 2013 e conta que “em 2019 vimos a necessidade de ir muito mais além. Foi quando trouxemos o programa de DI de construção de baixo para cima (bottom up). No Brasil temos 16 mil empregados e 1,3 mil empregados atuam como voluntários neste programa”, afirmou. No Brasil, a companhia tem a meta de atingir 30% de mulheres em cargo de liderança até 2030. 

No encerramento, uma das organizadoras da Diversibram, Marina Antwarg, gerente de Gestão de Talentos da Mosaic Feritlizantes, frisou que o Ibram mantém um grupo de trabalho para temas de DI e que ele produz iniciativas voltadas a estimular a DI em todo o setor mineral. O GT está conectado com a Agenda ESG da Mineração do Brasil. “Buscamos trabalhar com uma frente de educação e de sensibilização muito forte. Queremos trazer muitas questões e propostas para as empresas do setor, para as comunidades com as quais estamos envolvidas, com todo o público envolvido com a gente. O marco desta Diversibram é evoluirmos nesta jornada”, afirmou.