Estudos do Serviço Geológico do Brasil apontam cenários para diminuir a dependência externa de fertilizantes
A invasão das tropas russas no território ucraniano deve impactar no mercado mundial de fertilizantes potássicos. Isso porque Belarus, um dos maiores fornecedores mundiais da commodity, não apenas faz fronteira com os dois países em conflito, como o seu presidente, Aleksandr Lukashenko, é um aliado do presidente Vladimir Putin.
Em setembro de 2020, uma greve dos trabalhadores da Belaruskali ameaçou o fornecimento de potássio, inflacionando o mercado. A empresa estatal bielorussa é responsável pela produção de 18% do potássio consumido no mundo. Além disso, a Rússia é outro player mundial, com a produção concentrada próxima à região dos Montes Urais. Ou seja, as sanções econômicas devido ao conflito atingem dois países que lideram a produção de um dos principais insumos agrícolas, que forma, junto com o fosfato e nitrogênio, o composto NPK.
O risco foi confirmado pela Embaixada de Belarus no Brasil, que afirmou que sanções impostas pela Lituânia, que é caminho para o escoamento do insumo, devem interromper a venda de fertilizantes de Belarus para o país.
No Brasil, potência agrícola mundial, o potássio é considerado um mineral estratégico. Conforme explica o diretor de Geologia e Recursos Minerais do Serviço Geológico do Brasil, Marcio Remédio, o conceito está relacionado à importância do minério para a agricultura, mas especialmente devido à alta dependência externa.
O país importa 97% do cloreto de potássio que utiliza para fertilização do solo. Também ostenta o título de maior importador mundial de potássio, com uma demanda de mais de 10 milhões de toneladas ao ano. Solos altamente intemperizados e de baixa fertilidade, características de um país tropical, ajudam a entender a grande necessidade de fertilizantes.
“O mercado do potássio entrou em alerta devido à guerra Ucrânia/Rússia. A preocupação é com a elevação de preços e com o fornecimento do insumo. Trata-se de uma questão de segurança alimentar”, explicou.
De acordo com projeções traçadas pelo órgão para a elaboração do Plano Nacional de Fertilizantes, investimentos em tecnologia, pesquisa e inovação podem atenuar a alta dependência. No caso do potássio, a necessidade de importação pode cair de 97% para 48% até 2050. Esse percentual considera o aumento da produção em Sergipe, única mina em operação no país, somado aos projetos e estudos existentes na Bacia do Amazonas e outras regiões sedimentares, caso eles deslanchem nos próximos anos.
Parte desses estudos estão nas mãos do Serviço Geológico do Brasil, que desenvolve pesquisas geológicas em busca de alvos potenciais para a produção de potássio, com foco na indústria de fertilizantes.
Remédio destacou estudo lançado em 2020 que localizou na Bacia do Amazonas novas ocorrências e ampliou em 70% a potencialidade sobre depósitos de sais de potássio, ou silvinita, como é denominado o mineral cloreto de potássio, do qual se extrai o potássio (K). O estudo identifica esses recursos como um depósito de classe mundial, semelhante às maiores regiões produtoras.
“Temos outras bacias sedimentares que poderiam ser melhor pesquisadas para encontrar novas reservas nacionais, precisamos investir em pesquisa”, alertou.
Os depósitos de potássio econômicos são ocorrências geológicas extremamente raras, associados a antigas bacias sedimentares. A partir de intensa evaporação, em antigos ambientes marinhos mais restritos, os sais se concentram e precipitam de acordo com uma ordem de solubilidade, dos menos para os mais solúveis. Nessa ordem, os sais de potássio e magnésio, mais solúveis, são os últimos a se formarem. São condições específicas de grande evaporação. No caso da Bacia do Amazonas, são resultados da evaporação de mares antigos, que secaram entre 310 a 280 milhões de anos atrás.
O potássio é uma commodity estratégica mundial. Além de Belarus e a região dos Montes Urais, na Rússia, a província de Saskatchewan, no Canadá, também lidera a produção mundial.
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