Usiminas desenvolve alternativas para reaproveitamento do agregado siderúrgico

Produto oriundo do processo de produção de aciaria pode ser utilizado na pavimentação de rodovias e em blocos de concreto

Por Conexão Mineral 28/04/2017 - 16:50 hs
Foto: Usiminas
Usiminas desenvolve alternativas para reaproveitamento do agregado siderúrgico
Agregado siderúrgico é alternativa sustentável para obras em rodovias e calçamentos

Em uma iniciativa pioneira no País, a Usiminas começa a utilizar blocos de calçamento – ou blocos intertravados – produzidos a partir do agregado siderúrgico. O material é um coproduto gerado no processo produtivo do aço, composto de óxidos e silicatos, com alta resistência ao desgaste, e suas propriedades permitem substituir a areia, pó de brita e a brita empregados na fabricação dos blocos. 

O produto final é fruto de uma parceria entre a siderúrgica, a Fiemg e a empresa Precomol, sediada no Vale do Aço. Foram cerca de 10 meses de pesquisas e testes para se alcançar a mistura ideal entre o agregado e as demais matérias primas. “O bloco tem que atender a especificações mercadológicas, ambientais e apresentar uma resistência mecânica alta”, conta Henrique Hélcio Eleto, coordenador do Grupo de Trabalho Coprodutos da Usiminas. Os primeiros blocos apresentam resistência de 35 Mpa, o que possibilita o uso em áreas de trânsito de pedestres e tráfego de carros de passeio. “Continuamos o trabalho de pesquisa conjunta para chegarmos ao bloco com resistência da ordem de 50 Mpa, que suportam o tráfego de veículos pesados como ônibus e caminhões e também para o desenvolvimento comercial de outros produtos como manilhas, muros, mourões, boca de lobo, entre outros”, destaca Eleto.

Inicialmente, os novos blocos serão utilizados em dois projetos pilotos, em Ipatinga. A primeira obra será o calçamento do estacionamento do Hospital Marcio Cunha, totalizando 4 mil m². Outros 300 m² serão instalados no canteiro central da Avenida 5, entre o Gasômetro e a portaria Centro da Usiminas. Para o canteiro, também está previsto projeto de paisagismo. A partir desses resultados, serão avaliadas as condições para produção em larga escala e comercialização dos blocos ao público.

Para dar mais versatilidade ao produto, o grupo também desenvolveu blocos coloridos. “O pigmento vem de outro coproduto gerado pela Usiminas na laminação do aço, o óxido de ferro. O produto é adicionado à massa do bloco, garantindo que toda a peça seja colorida. Assim, mesmo que seja necessário fazer algum corte no bloco em uma quina, por exemplo, não haverá diferença de cor. Os blocos são produzidos em cinza, vermelho e roxo e atendem todos os requisitos técnicos e de aplicabilidade”, afirma o pesquisador do Centro de Pesquisa da Usiminas e integrante da equipe desenvolvedora, Wilton Pacheco de Araujo.

Além de ser uma opção econômica e de qualidade para o consumidor, o bloco traz uma série de outros benefícios ambientais e econômicos. O uso do agregado siderúrgico substitui recursos naturais finitos, reduzindo a necessidade de extração da natureza. Soma-se, ainda, a redução do volume de agregado siderúrgico enviado para aterros ou depósito e a permeabilidade do material, o que possibilita a infiltração da chuva no solo. Do ponto de vista econômico, a fabricação e comercialização dos blocos abre uma nova frente de negócios na região. “A partir da parceria, a Precomol incrementou a sua linha de produção com a inclusão de um novo produto. “Há uma perspectiva real de geração de novos empregos a partir da produção em escala comercial. Temos aí um exemplo claro de economia circular, um dos conceitos mais modernos de integração entre empresas, sociedade e meio ambiente”, explica o coordenador.

Uso aprovado em rodovias federais

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) divulgou Especificação Técnica Nacional que estabelece as condições técnicas para o fornecimento de agregado siderúrgico beneficiado, conhecido como Açobrita, para aplicação em rodovias federais. O material representa uma alternativa de pavimentação mais econômica em relação ao agregado natural, além de seguro e sem riscos ao meio ambiente. A Usiminas teve participação relevante nas iniciativas que levaram à aprovação do Projeto Açobrita, uma parceria do DNIT com o Instituto Aço Brasil e que também teve envolvimento das siderúrgicas ArcelorMittal e Gerdau e da Universidade de Brasília (UnB).

Com a Especificação Técnica, as siderúrgicas brasileiras poderão vender o agregado para uso em pavimentos rodoviários federais. É o caso, por exemplo, da BR 381, que têm potencial para consumir cerca de 2 milhões de toneladas do produto e é uma das principais rodovias federais próximo da Usina de Ipatinga (MG). A Usiminas também espera que este processo contribua para a liberação do uso do coproduto disponível na Usina de Cubatão (SP) pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Para atender a nova demanda, a Usiminas desenvolveu um produto mais aprimorado, denominado Siderbrita TOP, que segue os parâmetros técnicos, ambientais e as condições de aplicação estabelecidos pela Norma ABNT.

De acordo com Eleto, o projeto Açobrita traz ao País ganhos em flexibilidade de atendimento, já que as obras rodoviárias apresentam altos custos econômicos e ambientais devido à grande demanda de agregados naturais não renováveis. “Além disso, há um benefício ambiental relevante, tanto em razão do processo de reciclagem e reutilização do agregado siderúrgico quanto pela redução da necessidade de retirada de recursos como brita e areia da natureza”, afirma.

Para que o projeto fosse viabilizado, foram desenvolvidos trabalhos em equipe ao longo dos últimos 39 meses envolvendo viagens, reuniões para análise e definição dos parâmetros técnicos e ambientais, estudos laboratoriais, experimentos de campo, elaboração e divulgação de uma Norma nacional – ABNT NBR 16364, publicada em 10/05/2015, e por fim, a elaboração e aprovação de 02 Especificações Técnicas, DNIT 406/2017 – ES – Base estabilizada granulometricamente com Açobrita® – Especificação de Serviço e DNIT 407/2017 – ES – Sub-base estabilizada granulometricamente com Açobrita®.

Potencial de aplicação

A malha rodoviária brasileira composta por rodovias federais, estaduais e municipais, é uma das maiores no mundo, com uma extensão total de 1.720.755,7 km. Entretanto, apenas 12,3 % desse total está pavimentada, ou seja, 211.653,0 km (DNIT, 2015). Este panorama é preocupante, pois embora as rodovias sejam amplamente distribuídas, as mesmas não possuem a qualidade desejada, aumentando os custos operacionais, a poluição e a insegurança no transporte.

Neste cenário, o Açobrita é tem grande aplicabilidade no Brasil e uma grande capacidade de suprimento, uma vez que o País é o maior produtor latino-americano de aço e um dos maiores produtores mundiais.