Mineradora testa equipamento adaptado que reduz umidade do minério de ferro

Estudos foram feitos pelo Instituto Tecnológico da Vale (ITV)

Por Conexão Mineral 11/01/2017 - 16:13 hs
Foto: Vale
Mineradora testa equipamento adaptado que reduz umidade do minério de ferro
Adaptação no chute permite secagem de minério mais econômica que método tradicional

Pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale, em Ouro Preto (MG), estão prestes a testar em planta industrial uma tecnologia que poderá reduzir um impacto que, há anos, recai sobre o custo de produção do principal produto da empresa: a umidade. Atualmente, o minério de ferro da Vale embarcado no porto apresenta, em média, 9,5% de umidade. Ou seja, tomando como exemplo um Valemax, o maior mineraleiro do mundo, de 400 mil toneladas, isso representa 36 mil toneladas de água que saem do Brasil e seguem para os principais clientes da empresa do outro lado do mundo.

A origem da água no minério se apresenta de duas maneiras. De um lado, a umidade está relacionada com a própria composição física do mineral. De outro, com o beneficiamento realizado a úmido, que ainda ocorre em muitas minas da Vale. Processos como a flotação, usada para aumentar o teor de ferro do minério, usam água. Além do custo mais visível – o frete e o desconto pela venda do minério de ferro à base seca no porto de destino – a água representa um dispêndio maior no seguro da carga transportada no navio e ainda, em alguns casos, pode provocar a interrupção de um carregamento no porto.

A legislação internacional, a TML (Transportable Moisture Limit), regulamenta que o limite máximo da umidade é de 10,45%, por exemplo, para determinada região de embarque do minério de ferro. “Para valores de umidade acima deste limite, há riscos para a estabilidade do navio, que, em casos extremos, pode até emborcar. Quando o percentual de umidade ultrapassa o limite de TML no carregamento, o comandante do navio é soberano e pode suspender a operação. E aí é preciso correr contra o tempo para fazer a blendagem (mistura) de minério no pátio e, assim, reduzir a umidade e reiniciar o carregamento. Isso tudo representa perda por lucro cessante”, explica Thiago de Souza, pesquisador do ITV.

Há mais de uma década, a Vale estuda como reduzir a umidade, mas todas as soluções se mostraram inviável economicamente até agora. Pelo método convencional, é possível usar secadores industriais, mas, por conta dos grandes volumes exportados de minério de ferro pela empresa, os custos de investimentos (capex) e de operação (opex) desses equipamentos não compensam. Foi aí que entrou a solução que vem sendo desenvolvida pelo ITV há dois anos. O objetivo é reduzir entre 1% a 1,8% a umidade do minério de ferro.

Ao invés de usar os secadores industriais, a saída foi adaptar o chute de transferência de minério de ferro como câmera de secagem. Os chutes são equipamentos fechados onde é realizada a mudança de direção das correias transportadoras, que levam o minério do pátio para o navio. Segundo Thiago, a ideia é injetar ar quente e seco dentro do chute de transferência em contracorrente – ou seja, de baixo para cima - quando o minério estiver passando por ali, visando à remoção moderada da água. O equipamento proposto utiliza desumidificadores e aquecedores para tratamento do ar atmosférico, que é injetado no chute de transferência. A proposta é a utilização de um sistema movido a gás, podendo ser gás liquefeito de petróleo (GLP) ou gás natural.

“Em testes já realizados, verificamos que o custo de redução da umidade pelo novo sistema proposto é bem mais barato que a secagem tradicional e pode ser economicamente viável”, explica. No chute de transferência, o processo de redução de umidade ocorre em três segundos, que é o tempo que o equipamento gasta para realizar a mudança de direção da correia transportadora. “Enquanto ele estiver realizado a mudança de direção da correia, o ar quente e seco estará sendo lançado sobre minério de ferro, em contracorrente”, explica Thiago. A solução desenvolvida pelo ITV-MI será submetida a uma prova de conceito em escala industrial, prevista para ser realizada em fevereiro de 2017.

Sem particulados no ar

Os pesquisadores também pensaram numa solução ambiental que evitasse o lançamento de particulados na atmosfera logo após o processo de secagem. Na saída do chute, foi instalado um ciclone despoeirador, equipamento usado para controlar a emissão de particulados. Todo material arrastado com as correntes de ar quente vai para este equipamento, que separa o ar dos sólidos (finos de minério). Os particulados ficam depositados no fundo do equipamento, enquanto o ar, limpo, é lançado no ambiente pelo topo do ciclone. “Com o retorno do material arrastado para as correias transportadoras, conseguimos evitar a poluição do ar e, ao mesmo tempo, ganhar em produtividade”, afirma Thiago.